sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pobres dos que amam, se não estão acima da sua piedade!

"Ai, meus irmãos! Sabemos talvez um pouco demasiado sobre todos nós! E muitos há que se nos tornam transparentes, mas ainda assim não o suficiente para que os consigamos penetrar.
É difícil viver entre os homens: é tão difícil o silêncio.
E não é para com aquele que nos é mais ofensivo que somos mais injustos, mas para com o que nos é indiferente.
Se, contudo, ocorrer teres um amigo que sofra, sê um abrigo para o seu sofrimento, mas um leito duro, como uma cama de campanha; mais útil lhe serás desse modo.
E se um amigo te fizer mal, diz-lhe: "Perdoo-te o que me fizeste; mas houvesse-lo tu feito a ti mesmo, e como poderia eu perdoar-to?"
Assim fala todo o grande amor: ele sobrepuja o perdão, e até mesmo a piedade.
É preciso conter o coração: porque, se o deixamos à solta, bem depressa podemos perder a cabeça!
Ai! Onde encontramos nós na terra loucuras maiores que entre os compassivos? E que foi no mundo maior causa de sofrimento que as loucuras dos tais?
Pobres dos que amam, se não estão acima da sua piedade!
Assim me disse o diabo, um dia: "Até Deus tem o seu inferno: é o seu amor pelo homem".

Friedrich Nietzsche
“Assim Falou Zaratustra”, II, “Os compassivos”

1 comentário:

  1. Cá está aquilo que um gajo que tinha como motivação principal para aquilo que escrevia, tentar mudar a direcção para onde os seres humanos estavam dirigidos. Tentar fazer deles algo melhor do que aquilo que eventualmente eles iram ser, e muito provavelmente já são. Nada tem a ver com o comportamento prático, e realista que deves ter na tua vida, e nas opções que tomas.

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